Há alguns anos ganhei uma luta contra a arrogância. Participava de um processo de seleção de trabalho com outros oito candidatos. Fomos desafiados pela selecionadora a declarar um defeito pessoal. O primeiro candidato declarou altivamente: - Sou perfeccionista em tudo que faço. Os candidatos seguintes consideraram brilhante a sacada e repetiram consecutivamente: - Também sou perfeccionista. Me sentiria um papagaio de pirata ao repetir o mesmo defeito brilhante, por isso optei pela confissão e declarei um grave problema de comunicação interpessoal que carrego. Saí daquela sessão derrotado, porém, para minha surpresa fui selecionado, ganhando a vaga dos perfeccionistas. Foi uma rara exceção, pois infelizmente a arrogância e o olhar altivo são muito apreciados e respeitados nos ambientes corporativos.
O fato é que a arrogância é um distúrbio de posicionamento, em que o indivíduo considera estar em um nível acima do que realmente está. Daí a expressão contemporânea: - O cara se acha! O conceito de posicionamento vem sendo muito falado no universo corporativo, onde uma empresa e sua respectiva marca deve comunicar, de forma clara e objetiva, seu lugar, sua postura e perfil diante de seus clientes, concorrentes, fornecedores e colaboradores. Portanto o posicionamento correto tornou-se uma obsessão. O posicionamento da empresa, o meu, o seu, o nosso como povo, como Estado.
Ao pensar em posicionamento me lembro do livro poético de Jó. Personagem bem conhecido, um homem justo e bem posicionado. Vítima de uma aposta entre o céu e o inferno, tornou-se um pó rastejante, sem bens, sem família e sem honra. E o pior; sem respostas. Após dias e dias na lama da dor, ouvindo bobagens de amigos e do céu apenas um frio e profundo silêncio, a resposta chegou. Como de costume de Deus e de Cristo, veio então traduzida em dezenas de perguntas que não respondem nada, simplesmente posicionam. Posicionam Deus, posicionam o homem.
As perguntas, anti-respostas de Deus, dizem: - Eu estou aqui, veja o meu lugar. Você, está aí e este é o seu lugar. Uma resposta “arrogante” para a nossa cultura que, de maneira errada, entende e prega Deus como uma espécie de Papai-Noel bonzinho, prestes a nos ajudar a qualquer momento. Uma resposta “humilhante” para a nossa época, onde o homem está posicionado no centro de toda a atenção e merecedor de toda a felicidade do cosmos. Com o perdão da palavra: Uma verdadeira cacetada em toda nossa idéia de posicionamento divino e humano atual. Uma não-resposta que nos leva a um reposicionamento do nosso micro tamanho, silenciando todos gemidos de arrogância humana.
Acredito que estamos destruindo o meio-ambiente e a nós mesmos, justamente por nos considerarmos muito para apenas participar da natureza e da vida como participam os outros animais. Acredito que temos nos perdido em nossa fé, justamente por não considerar Deus em toda sua plenitude, tranformando-o em um prestador de serviços para nós mesmos.
Mas como entender um Deus que nos fez tão pequenos, e mesmo assim nos ouve?
Como entender um Deus que está tão alto e também tão perto para nos amar?
Leia a não-resposta de Deus no capítulo 38 de Jó.
sábado, 26 de março de 2011
A não-resposta de Deus
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